segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Poema em linha reta
Poema em linha reta
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
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Somos todos perfeitos, cheios de qualidades, zero defeitos, incapazes de uma maldade, de uma traição, de um acto baixo, de uma palavra ordinária e um comportamento indigno. Eu sou mortal e cheia de defeitos, já enumerei alguns bem graves num post que fiz... mas todos os meus defeitos fazem parte de mim e não me arrependo de nada que fiz, até os erros serviram para aprender algo de novo:)
ResponderEliminarGostei deste poema, muito real, e muito actual também.
Beijinho
adorei o poema...com tantos anos adaptase a actualidade
ResponderEliminarAdoro sempre os teus posts e visito frequentemente. Visita o meu blog e passa pela sondagem
Beijos charmosos
adooooro este poema, e gosto de o ler em voz alta, como se estivesse zangada com o mundo. lol
ResponderEliminarAdoro este poema ... diz-me muito
ResponderEliminarBeijinhos doces
um sussurro...
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